HISTÓRIA


OS DREADNOUGHTS DA MARINHA DO BRASIL:

Minas Geraes e São Paulo

Royal Navy

No início do século 20 a tecnologia naval evoluiu para um novo tipo de couraçado que dispensava a necessidade de dois calibres principais, concentrando o poder de fogo num único calibre. O primeiro desses navios foi o Dreadnought. 

 

 

n Autor - Paulo de Oliveira Ribeiro

 

A origem dos 2 dreadnoughts brasileiros (São Paulo e Minas Geraes) teve início no Programa Naval de 1904. Após muitos anos de abando por parte do governo brasileiro, o novo presidente da República, Francisco de Paula Rodrigues Alves, decidiu modernizar a marinha. Com base nessa medida, o Almirante Julio César de Noronha organizou uma proposta para aquisição de novas unidades navais. O programa foi definido após entendimentos preliminares com a empresa britânica W.G. Armstrong, Whitworth and Co. Ltd. A proposta foi apresentada ao Congresso Nacional pelo Senador Laurindo Pita em 7 de Junho de 1904, na forma de projeto de Lei nº. 30/1904, e previa a aquisição dos seguintes navios:

- 3 encouraçados de 12.500 a 13.000 toneladas, armados com 12 canhões de 254 mm;

- 3 cruzadores com deslocamento entre 9.200 e 9700 toneladas;

- 6 contratorpedeiros de 430 toneladas;

- 6 barcos torpedeiros de 130 toneladas;

- 6 barcos torpedeiros de 50 toneladas; e,

- 3 submarinos.

 

O projeto foi aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Presidente em 14 de dezembro de 1904. Os projetos foram encomendados ao estaleiro Armstrong em 20 de maio de 1905.

O projeto escolhido foi apresentado pela Armstrong juntamente com a Vickers, Sons e Maxim, com o Projeto 188 (Vickers)/Projeto 439 (Armstrong). O deslocamento do navio proposto era de 13.000 t, o armamento principal era constituído por  12 canhões de 254 mm e a velocidade atingia 19 nós. As seis torres duplas foram distribuídas da seguinte forma: uma em cada bordo, a meia nau; duas a ré da superestrutura e duas na proa, tornando-o um dos projetos de navio mais poderosos de sua época, e considerado uma prévia do padrão naval daqueles tempos.

Quando o contrato com o estaleiro foi assinado, o deslocamento projetado subiu para 14.564 t (Projeto Vickers 188A).

Dois navios seriam construídos em Elswick: o nº 791 Minas Geraes e o nº 792 Rio de Janeiro. No estaleiro Barrow-in-Furness seria construído o nº 347 São Paulo. O período de construção era de 24 meses para o Minas Geraes, 29 meses para o Rio de Janeiro e 26 para o São Paulo.

A construção mal havia começado quando o encouraçado HMS Dreadnought iniciou suas provas de mar em 3 de outubro de 1906. Com seus 10 canhões de 305 mm, o encouraçado britânico fez com que os projetos dos navios brasileiros se tornassem obsoletos antes mesmo de serem completados. O ministro Almirante Noronha considerava o projeto original por ele aprovado melhor que o Dreadnought, e provavelmente não o alteraria.Por sorte, o ministro da marinha brasileira foi substituído quando da eleição do no presidente Afonso Augusto Moreira Pena.

 

Dessa forma, o novo ministro (Almirante Faria de Alencar), solicitou a parada temporária da construção das embarcações e uma reavaliação do projeto, levando-se em consideração as características incorporadas pelo Dreadnought. Isso foi feito e o novo projeto incorporou também canhões de tiro rápido semelhante aos utilizados pelos navios da classe Michigan da marinha norte americana. O contrato para a construção for a assinado em 20 de fevereiro de 1907.

Porém, devido ao intenso ritmo na evolução da construção naval daquela época, mesmo com as modificações os navios estavam obsoletos depois de concluídos. Os novos projetos britânicos e norte americanos passaram a utilizar calibres de 343 mm e 356 mm dispostos axialmente, e locomovidos por turbinas ao invés das plantas propulsoras tradicionais.

 

O Minas Geraes

O encouraçado Minas Geraes foi o primeiro e sua construção ficou a cargo do estaleiro Armstrong Elswick. O batimento de quilha ocorreu em 17 de abril de 1907, sendo lançado ao mar em 10 de setembro de 1908 e completado em 1º de janeiro de 1910. Seu primeiro comandante, o Capitão de Mar e Guerra João Baptista das Neves, assumiu o comando em 10 de janeiro de 1910. Posteriormente, esse oficial seria morto em seu próprio navio na histórica Revolta da Chibata. Sua chegada ao Rio de Janeiro ocorreu em 17 de abril de 1910, após testes de mar em águas européias.

Logo que chegou ao Brasil o encouraçado Minas Geraes fez algumas comissões, até que no dia 31 de outubro de 1910 aportou novamente no Rio de Janeiro, onde ficou parado de novembro de 1910 a maio de 1911.  Sua carreira foi marcada por algumas viagens seguidas por longos períodos de ócio amarrado a um cais no Rio de Janeiro.

 

Em 9 de julho de 1920, o encouraçado zarpou com destino ao Arsenal Naval de Brooklin nos Estados Unidos para ser modernizado, permanecendo ali até setembro de 1921. Sem dúvida o maior alvo dessa modernização foi o seu sistema propulsor que deixou de ser a carvão para se tornar a óleo, além de receber novas caldeiras a vapor suas duas chaminés características foram convertidas em uma única, seu armamento também foi ligeiramente modificado com a adoção de novas baterias antiaéreas.

O navio retornaria ao Rio de Janeiro no dia 20 de dezembro de 1921.Os anos seguintes seriam marcados por intensas atividades. Em julho de 1922, participou do bombardeio ao rebelado Forte de Copacabana (Rio de Janeiro). Dois anos depois foi enviado ao porto de Santos onde desembarcou um contingente de 500 homens que participaram dum combate contra forças revolucionárias na cidade de São Paulo.

Retornou ao Rio de Janeiro em 5 de agosto do mesmo ano. Porém, um mês depois saiu em perseguição ao seu irmão gêmeo, o encouraçado São Paulo, que se encontrava amotinado. A tripulação do São Paulo levou o navio para Montevideu (Uruguai) com o objetivo de solicitar asilo político ao governo daquele país. O Minas Geraes foi enviado a  Montevideo tocom o objetivo de receber o São Paulo do governo uruguaio. Os dois chegaram ao Rio de Janeiro no dia 21 do mesmo mês. 

                                                                                                                                                                                 Marinha do Brasil

 

O Minas Geraes após sua primeira modernização

 

Em 8 de setembro de 1931 o Minas Geraes foi docado no AMRJ para ser novamente "modernizado". Recebeu seis caldeiras Thornicroft para óleo queimado no lugar das 12 caldeiras Babcock para carvão. Com o ganho em espaço, o mesmo foi aproveitado para a instalação de mais depósitos de combustível, elevando a autonomia do navio. As baterias anti-aéreas de 76 mm foram removidas e em seu lugar foram instaladas quatro peças de 102 mm, além de outras quatro peças de 40 mm. As duas chaminés foram fundidas numa só e um novo sistema de controle de fogo foi instalado. O navio saiu do estaleiro em abril de 1938. Porém, no dia 8 de setembro ocorreu um grande incêndio abordo do encouraçado e o mesmo foi obrigado a voltar novamente para ARMJ, regressando ao serviço em 4 de outubro do mesmo ano.

 

Após diversas missões durante a II Guerra Mundial, o navio foi enviado a Salvador (Bahia) onde permaneceu fundeado, atuando como bateria costeira fixa. Seu retorno ao Rio de Janeiro só ocorreria ao término da guerra, em 1945.

O encouraçado Minas Geraes foi desativado em 20 de setembro de 1953, sendo vendido como sucata para a firma italiana S.A. Cantiere Navale Santa Maria e seguindo a reboque para a Europa em 11 de março de 1954, aonde foi finalmente desmontado no final de daquele ano. Seu último comandante foi o Capitão de Mar e Guerra Amorim do Valle.

 

                                                                                                                                                                                                         Marinha do Brasil

O Minas Geraes ancorado no porto de Salvador durante a II Guerra Mundial.

 

O São Paulo

O encouraçado São Paulo foi construído no estaleiro Barrow-in Furness at the Vickers, Sons and Maxim. Teve sua quilha batida em 30 de abril de 1907, sendo lançado ao mar em  19 de abril de 1909 e completado em  22 de agosto de 1910. Seu primeiro comandante foi o Capitão de Mar e Guerra Francisco Gavião Pereira Pinto. O navio deixou a Grã Bretanha em 16 de setembro de 1910 e parou em Cherbourg (França) para receber a bordo o recém eleito presidente da República do  Brasil, Sr. Hermes Rodrigues da Fonseca. Deixou Cherbourg em 28 de setembro de 1910 e aportou em  Lisboa (Portugal). No dia 3 de outubro o São Paulo presenciou a revolução portuguesa que culminou com a  derrubada da monarquia, tendo o Presidente Hermes oferecido asilo político à família real portuguesa. Este foi recusado sob agradecimentos de Dom Manuel II, que julgava ter deveres por cumprir em Portugal.

Quando o encouraçado São Paulo chegou ao Rio de Janeiro, em 25 de outubro de 1910 foi incorporado a Divisão Naval do Centro (atual 1º DN). Provavelmente por influência dos acontecimentos em Portugal, os praças do Minas Geraes, rebelaram-se em 22 de novembro de  1910 contra seus oficiais. Os marinheiros do São Paulo seguiram o mesmo curso. A revolta terminou quando  o governo ofereceu anistia aos rebelados e aceitou algumas das exigências dos amotinados. O episódio ficou conhecimdo como a “Revolta da Chibata”.


Durante vários anos, participou de diversas comissões e visitas a portos brasileiros. Em 7 de agosto de 1918, o navio foi enviado ao estaleiro Brooklyn para modernização e reparo, conforme executado no encouraçado Minas Geraes. Deixou o estaleiro em 17 de janeiro de 1920. 

 

Em 6 de julho de 1922, por causa da rebelião no Forte de Copacabana, foi ordenado que disparasse contra a instalação de terra. Após cinco disparos o forte se rendeu. Em agosto de mesmo ano foi enviado a Bélgica para trazer o rei e a rainha daquele país para as comemorações de centenário da independência do Brasil, retornando em 19 de setembro de 1922.

O navio retornou à sua rotina de comissões e treinamentos até que em 4 de novembro de 1924 seus oficiais rebelaram-se contra o governo. Após trocar disparos com as fortalezas de Santa Cruz e Copacabana, o navio navegou na direção sul para fazer contato com os revolucionários do Rio Grande do Sul. Prevendo ser impossível, a tripulação decidiu pedir asilo político no Uruguai em 9 de novembro de 1924. Anos mais tarde, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, o encouraçado São Paulo foi a nau capitânea da divisão que executou o bloqueio ao porto de Santos.

Durante a 2ª Guerra Mundial o encouraçado São Paulo serviu como bateria flutuante fixa na entrada do Porto de Recife, só retornando ao Rio de Janeiro em 1945, após o final da Guerra.

O encouraçado São Paulo foi para a reserva em 2 de julho de 1947, passando a atuar então como navio de treinamento estático até sua desativação definitiva em 1951, quando foi vendido como sucata para um estaleiro inglês.  seguindo rebocado para a Europa, para ser desmontado, porém o navio pretendia morrer de outra maneira e escolhera o fundo do mar como seu túmulo. Durante uma tempestade na noite do dia 6 de novembro de 1951, o São Paulo soltou-se dos cabos que o ligavam aos rebocadores e perdeu-se na escuridão. Terminou por afundar, levando consigo sua ultima tripulação composta de oito homens.

 

Classe MINAS GERAES – FICHA TÉCNICA

Deslocamento

Padrão - 19,200 t; máximo - 23,243 t

Dimensões

Comprimento -162.5 m; boca - 25.3 m width; calado - 7,8 m

Propulsão

18 caldeiras Babcock (substituídas posteriormente por 6 Thornycroft); 2  chaminés (posteriormente um única chaminé)

Velocidade máx.

22 nós

Alcance

10.000 milhas náuticas a 10 nós

Tripulação

900 a 1.200 homens, em função da missão

Blindagem

cinturão: 9” (229 mm) no costado, 6” (152 mm) na popa e na proa
coberta principal: 2” (51 mm)
torretas: 9” (229 mm) na frente, 8” (203 mm) nas laterais
superestrutura: 8 “ (203 mm) na frente, 3” (76 mm) nas laterais

Armamento

principal: 12 peças de 12” (305 mm) dispostas em torres gêmeas
secundário: 22 peças simples de 4,7” (120 mm) em casa matas; 8 peças de 3” (76 mm) Mk. II (removidas em 1935)

 

 

Ref: Revista Marítima Brasileira Vol. 121 Nº 1/3 janeiro/março de 2001

Historia Naval Brasileira Vol. 5 Tomo II SDM 1985

Almirante Lucas Alexandre Boiteux “Das nossas naus de ontem aos nossos submarinos de hoje” Series publicado em Subsídios para a Historia Marítima do Brasil, Vol. XVII SDM

Almirante Júlio César de Noronha “O programa naval de 1904” in Subsídios para a Historia Marítima do Brasil Vol. IX SDM 1950

David Topliss “The Brazilian Dreadnoughts 1904-1914” in Warship International Vol 3 INRO 1988